Escrevi quase por querer
Olá caro leitor do outro lado da telinha! Hoje tem Prosa (pra) Sortá (os) Trem Acumulado. Bora viajar nessa pista.
Ouvi no rádio outro dia a música “Quase sem querer” do Legião Urbana. Música linda. Letra magnífica.
Levanto discussão sobre uma parte, quando Renato e confrades dizem que já não sou mais tão criança a ponto de saber de tudo.
Compreendi o que ele quis dizer. Em que pese que o poeta pouco se importa com a interpretação alheia, conforme me ensinou Manoel de Barros. Mas posso me dar o direito de dizer o que penso. Liberdade de expressão. Bom, então pensei: podemos ter duas interpretações para a palavra criança neste verso, uma carrega o sentido da imaturidade. O sentido físico, cronológico da coisa. A outra carrega o sentido espiritual.
Neste ponto gostaria de discutir com o compositor, dá-me licença Renato. Gosto mais do sentido espiritual da palavra criança. Jesus se referiu a este sentido quando disse que só entraria no Reino do Céu quem for semelhante às crianças (Mateus 19:14). Criança é sábia, é pura, desprovida de olhos julgadores. Peritas em estado de presença.
Vejam o que Rubem Alves escreveu: “ficar como criança pequena é ficar sábio. Diz Tao Te King que o segredo do sábio, a razão por que todos olham para ele e o escutam, é que ‘ele se comporta como uma criança pequena’. O sábio é um adulto com olhos de criança.”
É, fico com Rubem nessa.
Tao Te King ou Tao Te Ching é o livro das sabedorias e virtudes da cultura chinesa atribuído ao filósofo Lao Tse. Não sei você, mas dou uma grande moral para essas sabedorias antigas orientais.
Pensando bem, talvez Renato e seus confrades tiveram a intenção de elevar o espírito criança e delegaram a ela o poder de tudo saber, portanto o poeta já foi criança e naquela época sabia tudo. Agora é um adulto cheio de medo e distorção.
Será?
Para chegar ao estado de plenitude, creio que o Eu Superior necessariamente deve estar integrado com o Eu Criança. E este Eu Criança deve estar equilibrado, acolhido, saudável. Reiterando a frase de Rubem Alves: o sábio é um adulto com olhos de criança.
Enfim, Renato, eu aprecio a obra “Quase sem querer”. Aliás é minha canção preferida do seu repertório. Decidi sobre isso neste mesmo dia que ouvi a música na rádio em estado de presença.
Logo depois vem “La solitudine”, pela melodia e por ser cantado de forma magistral por Renato. Que talento tinha este homem brasileiro que cantava também em italiano.