O primo
— Ted, o detetive?
— Sim.
— Preciso de seus serviços par…
— Pois não, qual o caso?
— Minha nossa, é uma urgência…
— Pois sim, sempre são urgentes.
— Não, quero dizer, agora a urgência é que preciso usar o seu banheiro.
— E o caso? Não é urgente?
— Também, por gentileza…
— Sim, sim, vejo sua necessidade. Logo ali, senhor.
Ao sair do sanitário, de mãos lavadas, o cliente arrematou:
— Um dos maiores prazeres concedidos é o de evacuar, pois deixamos de ser enfezados.
— Como é?
— Antes que possa torcer o nariz, eu argumento que é muito higiênico a limpeza de dentro. Os resíduos são empacotados dentro de um tolete de bosta, da maneira certa para o descarte. O corpo é uma máquina fantástica! De fato, como dizia meu velho pai, enviar alguém em tom imperativo ao ato de evacuar é positivo para aqueles que entendem o sentido da palavra “alívio”. Enfim, trata-se de desejar o bem estar de outrem.
— Humm.. pensamento interessante. Bem, o caso é grave?
— Sim, intestino preso.
— Perdão, refiro-me a…
— Eu sofro de constipação intestinal.
— Parece-me bem solto.
— Ah, iniciei tratamento com lactulose, meu caro. Sabor ameixa. Farmacêutico amigo me indicou e se mostrou um santo remédio, começando a fazer efeito neste momento.
— Compreendo, mas eu me referia ao seu caso, o que te trouxe aqui.
— Problema de prisão.
— Outra vez? Discutiremos apenas sobre seu intestino? Oras, pois temos um caso escatológico…
— Não, não, é o meu primo. Meu primo está preso. Injustamente, claro. Por isso preciso do seu serviço para investigar o patife que o incriminou.
— Agora começamos a nos entender. Pois saiba que Ted Rocky é a lactulose da justiça, trata de primo inocente preso.
(…)